sábado, 26 de maio de 2012

O colar de pedras

Sobre a minha secretária, encontrei um fio de colar. Não sei de quem é, nem quem o confiou. Sob o fio, um bilhete. Não reconheci a letra. Peguei-o e li:
"Encontra as tuas pedras e constrói o teu colar. Guarda-o. Com ele, saberás o que realizar."
Interroguei-me. Enveredei por um exercício de meditação que me forneceu algumas respostas. Mas. Mas faltam-me as palavras. Faltam-me sempre. Descobri uma razão entre as pedras e as palavras. Descobri uma razão entre um fio de colar e a essência de escrever. E, não consegui evitar em questionar-me:
Será hoje? Será hoje que vou escrever alguma coisa? Será hoje que vou escrever alguma coisa que te diga alguma coisa, que nos diga alguma coisa, que vala, pelo menos, alguma coisa? Não. Bem sei que não. E sei que, será sempre, e sempre, não. Faltam-me as palavras. Faltam-me sempre. E continuo a remoer-me se algum dia conseguirei reunir um conjunto de palavras que num todo façam algum sentido, que nos ensinem alguma coisa? Mas não tenho nada para ensinar. Como posso ter? E no entanto, sei que, voltarei, sempre, ao empreendimento de descobrir as palavras. Como aqueles que procuram as pedras. As pedras para fazer um colar. Mas não tenho nada, sou um saco vazio de pedras. Na minha rua não devem haver pedras.

Acabei de ler uma crónica do António Lobo Antunes. Acabei de ler uma crónica do José Luís Peixoto. Fiquei a pensar. Fiquei a pensar que me apetece unir um conjunto de palavras como se unem as pedras polidas num fio de colar e, depois, se vendem numa barraca de feira. Numa barraca de feira, por que é o que elas valem. Se, mesmo isso valerem. Com alguma sorte, talvez te contem alguma coisa, talvez me contem alguma coisa. Talvez, um dia, consiga reunir um conjunto de pedras coloridas.
Levantei-me, aqui, longe de vocês. Porque quando começo a pensar preciso de andar. Sim, levantei-me só para pensar. Comigo levei o meu fio de colar. Suspenso pelos mesmos dedos que lhe procuram palavras. Deixei-me andar, para algum lugar, para lugar algum. Nunca sei qual. E pensei que, aqueles que escrevem, convergem. Talvez num beco, talvez numa armadilha. Todos pensamos que nos enganamos a pensar. Por vezes, pensamos que não nos iludimos, o que por si, já é uma ilusão. E depois penso que todos paramos. Será que, todos, como eu, param? Como que, se para pensar, fosse condição cessar. Voltei-me a lembrar das crónicas do António Lobo Antunes e do José Luís Peixoto. E assusto-me com a facilidade das palavras deles. E assusto-me com o sentido; com a clareza; com a imaginação. E assusto-me com a veracidade, com a sinceridade. Porque a veracidade e a sinceridade alimentam o coração da escrita, são como uma caixa de pedras preciosas. Uma caixa que, ao abrir-se, reflecte a luz que lhe incide. Ilumina. Alimenta-se da luz exterior, como as palavras se alimentam da nossa envolvência. E se nascerem de um brilho de luz espontâneo, natural, serão belas. Serão diamante,  serão rubi, serão safira, serão esmeralda. É o mais fácil para mim, para eles. E para ti? Porque não é preciso inventar, ludibriar, imaginar. É o mais fácil. É o que existe, o que vejo, o que sinto. É o que me acontece, o que te acontece, o que nos acontece. É onde estou, onde estás, onde estamos. É tudo.
Estava parado quando senti qualquer coisa a escapar-me da mão. Seriam palavras? Não. Era um fio de colar, que, alguém, não sei quem, deixou em cima da minha secretária. E recordei-me das sutis palavras escritas naquele bilhete de colar:
"Encontra as tuas pedras e constrói o teu colar. Guarda-o. Com ele, saberás o que realizar."
Foi, então, que voltei-me a lembrar daqueles que escrevem. Concluí que o José escreve, as crónicas, em forma de poesia. E o António, o que escreve o António? Não sei, quem sabe, tu sabes? Mas escreve qualquer coisa, que de certo é uma crónica, por que também me faz pensar. E não me interessa como escreve. Interessa-me se gostei, se aprendi. E depois? E depois voltei ao meu lugar. Na verdade tudo o que pensei enquanto andei, nada, mesmo nada do que pensei, escrevi. Tenho na mão um fio de colar sem pedras. Pelo caminho encontrei algumas, mas são apenas, e apenas, pedras sem brilho. De qualquer rua, de qualquer lugar, mas de nenhum especial. Se preciosas encontrei, já as perdi. Perdi o melhor. Assim me iludo. Coloco as pedras de rua no meu fio de colar, mas não condizem. Uma lisa, outra enrugada. Uma redonda, outra disforme. Uma diáfana, outra opaca. E coloco-as no meu fio de colar, que, alguém, não sei quem, me deixou em cima da secretária. Tento convencer-me que conheço um lugar de jazida que só eu sei onde existe. Convenço-me que a culpa é sempre, e sempre, de nunca ter comigo um saco, como se as palavras preciosas só se encontrassem quando não as posso escrever, quando não tenho um saco para as guardar. É por isso que nunca tenho pedras preciosas. Ficam lá, para outro. Por vezes, consigo esconder uma ou duas no bolso. Mas não passam de espinelas, logros de diamante, logros de safira. E com essas, por vezes, ludibrio um, ou dois de vós.Perderemos todos, nós os que escrevemos, sempre o melhor? Será que eles também perdem? Porque, como vos disse, só sou capaz de escrever com veracidade, sinceridade. Este momento, não o outro. O outro já foi. Só assim sou natural. E procuramos, todos, escrever com caneta a cor de diamante, a cor de safira, de rubi, talvez esmeralda. E de repente. E de repente sinto palavras que disparam de dentro, atingem-me como pedras. São pedras. A impulsividade. A fidelidade tingida pela impetuosidade das palavras. E não me controlo. E não as controlo. Só assim consigo escrever. Porque, quando penso, não sou capaz de escrever, senão perco. Perco os pensamentos. E eles? Será que eles pensam? Não sei. Iludo-me que teremos qualquer coisa em comum. Uma forma qualquer de estar, de fazer, ou, talvez, de ver? Há qualquer coisa que não quero admitir, que não posso admitir. Porque como já vos disse, não sei. Não sei nada, não tenho nada para ensinar, para contar. Nem saberia escreve-lo, se o tivesse. Eles têm. Eles sabem. Pergunto-me o quanto terei do que eles têm? Se é que tenho alguma coisa. Talvez. Talvez tenha, mas nunca o vou admitir, nunca o poderei admitir, porque não tenho. Não as tenho. Faltam-me as palavras. Faltam-me sempre.

3 comentários:

Anónimo disse...

Olá tudo bem contigo?


Sergix

Unknown disse...

Pedro Paulo Pereira Pinto, pequeno pintor português, pintava portas, paredes, portais... Porém, pediu para parar porque preferiu pintar panfletos.. Partindo para Piracicaba, pintou prateleiras para poder progredir.


Posteriormente, partiu para Pirapora... Pernoitando, prosseguiu para Paranavaí, pois pretendia praticar pinturas para pessoas pobres. Porém, pouco praticou, porque Padre Paulo pediu para pintar panelas, porém posteriormente pintou pratos para poder pagar promessas.
Pálido, porém personalizado, preferiu partir para Portugal para pedir permissão para papai para permanecer praticando pinturas, preferindo, portanto, Paris.

Partindo para Paris, passou pelos Pirenéus, pois pretendia pintá-los. Pareciam plácidos, porém, pesaroso, percebeu penhascos pedregosos, preferindo pintá-los parcialmente, pois perigosas pedras pareciam precipitar-se principalmente pelo Pico, porque pastores passavam pelas picadas para pedirem pousada, provocando provavelmente pequenas perfurações, pois, pelo passo percorriam, permanentemente, possantes potrancas.

Pisando Paris, pediu permissão para pintar palácios pomposos, procurando pontos pitorescos, pois, para pintar pobreza, precisaria percorrer pontos perigosos, pestilentos, perniciosos, preferindo Pedro Paulo precaver-se.

Profundas privações passou Pedro Paulo. Pensava poder prosseguir pintando, porém, pretas previsões passavam pelo pensamento, provocando profundos pesares, principalmente por pretender partir prontamente para Portugal. Povo previdente! Pensava Pedro Paulo... Preciso partir para Portugal porque pedem para prestigiar patrícios, pintando principais portos portugueses. - Paris! Paris! Proferiu Pedro Paulo.
Parto, porém penso pintá-la permanentemente, pois pretendo progredir. Pisando Portugal, Pedro Paulo procurou pelos pais, porém, papai Procópio partira para Província. Pedindo provisões, partiu prontamente, pois precisava pedir permissão para papai Procópio para prosseguir praticando pinturas.


Profundamente pálido, perfez percurso percorrido pelo pai. Pedindo permissão, penetrou pelo portão principal. Porém, papai Procópio puxando-o pelo pescoço proferiu: Pediste permissão para praticar pintura, porém, praticando, pintas pior. Primo Pinduca pintou perfeitamente prima Petúnia. Porque pintas porcarias? Papai - proferiu Pedro Paulo - pinto porque permitiste, porém, preferindo, poderei procurar profissão própria para poder provar perseverança, pois pretendo permanecer por Portugal.


Pegando Pedro Paulo pelo pulso, penetrou pelo patamar, procurando pelos pertences, partiu prontamente, pois pretendia pôr Pedro Paulo para praticar profissão perfeita: pedreiro! Passando pela ponte precisaram pescar para poderem prosseguir peregrinando.

Primeiro, pegaram peixes pequenos, porém, passando pouco prazo, pegaram pacus, piaparas, pirarucus. Partindo pela picada próxima, pois pretendiam pernoitar pertinho, para procurar primo Péricles primeiro. Pisando por pedras pontudas, papai Procópio procurou Péricles, primo próximo, pedreiro profissional perfeito.

Poucas palavras proferiram, porém prometeu pagar pequena parcela para Péricles profissionalizar Pedro Paulo. Primeiramente Pedro Paulo pegava pedras, porém, Péricles pediu-lhe para pintar prédios, pois precisava pagar pintores práticos. Particularmente Pedro Paulo preferia pintar prédios. Pereceu pintando prédios para Péricles, pois precipitou-se pelas paredes pintadas. Pobre Pedro Paulo pereceu pintando...

Permita-me, pois, pedir perdão pela paciência, pois pretendo parar para pensar.... Para parar preciso pensar.

Pensei. Portanto, pronto pararei.

Nenhum pedro, Sergix ;)

Tenta fazer um texto assim só com Jotas ;)

Anónimo disse...

Jun
03
Rock In Rio: James políticos no regresso a Portugal
Marta Rocha - 2012.06.03 - 22:28
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Os James já são velhos conhecidos do público nacional e no regresso aos concertos no país, a banda vestiu literalmente as cores de Portugal. O trompetista trazia a camisola das quinas como número 7 e o guitarrista Saul Davies, há vários anos a viver no nosso país, levou mais longe a homenagem e para além de ter as cores do país nos braços, fez um discurso político sobre a situação nacional, mas lá chegaremos, primeiro, a música.

«Whiteboy» deu início ao concerto com um regresso ao álbum «Hey, Ma» e logo podemos ver o vocalista com a sua imagem característica, cabelo rapado e pêra aparada (e que na opinião de um senhor atrás de nós parecia «um foragido da prisão de caxias») em movimentos acelerados, numa espécie de dança descordenada, mas muito sentida, continuada em «Laid», tema acompanhado na voz e nos aplausos ritmados por muita gente do público.

A plateia da Bela Vista foi chegando à frente do Palco Mundo à medida que o concerto decorria e foi reagindo com maior entusiasmo aos maiores êxitos da banda, caso de «Ring The Bells», «She's a star» e «Stutter», música sobre «perder o controlo da tua mente». Foi precisamente antes de «Stutter» que o vocalista fez uma muito celebrada homenagem a Bruce Springsteen, dizendo que quando tinha 17 anos era um «punk-rocker», fã de músicos que se «cortavam em palco para entreter as pessoas» e que foi arrastado pelos amigos para o concerto de um músico que não queria ver. Esse músico era Bruce Springsteen e Booth revela que «The Boss» lhe mostrou «uma nova forma de estar em palco».

«Sound» foi também um dos melhores momentos do concerto, com refrão a ser cantado por toda a gente, levando o vocalista a fazer uma divisão do público em três partes, em bonito coro afinado que fez a ponte para «Tomorrow», sabido de cor na audiência. Depois de «Sometimes», faz-se a pausa para o primeiro momento político da noite. O guitarrista Saul Davies, que tem mulher portuguesa, mostra que tem escrito no tronco a frase «No Jobs for the Boys» e agarra o microfone dizendo em português: «Estás-me a ouvir?» para perguntar porque é que as pessoas na sua aldeia «não têm dinheiro para pagar a conta da luz» e porque é que o governo português «fecha escolas por não ter dinheiro para pagar aos professores». O músico termina o discurso com um «boa sorte» e foi recebido com uma das maiores ovações do concerto.

A música mais esperada da noite era obviamente «Sit Down», tema que ironicamente não tem sido tocado pela banda nos últimos concertos, mas que, segundo explicado por Booth, sentiram que deviam tocar por «pertencer a muita gente que está aqui hoje». Pela reacção geral, tinham razão.


http://myway.pt.msn.com/noticia/rock_in_rio_james_politicos_no_regresso_a_portugal_8317.aspx

sergix

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