Os Maias - Eça de Queiroz
Confesso que, mesmo hoje, após uma primeira tentativa de ler o romance, à segunda precisei de ler as primeiras páginas, a descrição do Ramalhete, na diagonal. Afinal, d'Os Maias não me safo sem batota...
E agora percebo porque sempre fui mediano no Português. De facto, talvez só lendo os clássicos se pode aprender uma língua e a sua riqueza.
Hoje talvez perceba um pouco do génio de Eça de Queiroz. Do exímio domínio da língua, do arguto retrato social, e dos transparentes retratos psicológicos, o que me fascinou em toda a sua extensão foi a constante aceleração da acção. Desde a estática descrição do Ramalhete, aos cenários sociais da aristocracia e burguesia do século XIX, ao retrato de uma Lisboa oitocentista sobre um Tejo ainda translúcido e inspirador, às paisagens bucólicas de Sintra e Santa Olávia, ao psicológico drama e final trágico, não conheço outro livro onde o ritmo acelere tão gradualmente, sem quebras. Ou seja o ritmo aumenta de forma impressionatemente constante, incluindo em novos enquadramentos descritivos. Se bem que essa aceleração seja norma, para não dizer regra, noutras leituras sempre apresentaram-se travagens na velocidade da acção. Em Os Maias tal não sucede, e a cada página seguinte crescem na mesma medida o estímulo da leitura e a intensificação do drama.
Da história, como já comentei a algumas pessoas, da minha óptica sobressai os homens só se apaixonarem por mulheres casadas, e as mulheres só desejarem outros homens que não o esposo.
Por último, mais uma vez, de um clássico retiro a seguinte conclusão: a sua actualidade.
Bem que o retrato social de 1870 é mais próximo do que distante do retrato da sociedade actual. Ora pensem bem nestas duas questões:
Tanto em 1870 como agora em 2018, na vida os portugueses se guiam mais pelo romantismo e sentimentalismo como fim e não como forma?
E, subsiste ou não, pelo menos desde a época de Eça de Queiroz, a esperança fatídica da salvação da nação com esta nova, ou próxima, geração?
Pois bem, só posso concluir que as sociedades, na dimensão das suas atitudes, valores e práticas, demoram muito tempo a mudar, se eventualmente mudarem.
E a quem me disser que as coisas neste país vão mudar, eu vou continuar a responder: leiam os clássicos!
Passei no exame Senhora Professora? :)