sexta-feira, 30 de março de 2018

Os Maias - Eça de Queiroz

A redenção custou mas chegou! Vinte anos passados, depois de fazer batota no ensino Secundário com o apoio daqueles livrinhos da Europa-América, li os Maias!

Confesso que, mesmo hoje, após uma primeira tentativa de ler o romance, à segunda precisei de ler as primeiras páginas, a descrição do Ramalhete, na diagonal. Afinal, d'Os Maias não me safo sem batota...  
E agora percebo porque sempre fui mediano no Português. De facto, talvez só lendo os clássicos se pode aprender uma língua e a sua riqueza.

Hoje talvez perceba um pouco do génio de Eça de Queiroz. Do exímio domínio da língua, do arguto retrato social, e dos transparentes retratos psicológicos, o que me fascinou em toda a sua extensão foi a constante aceleração da acção. Desde a estática descrição do Ramalhete, aos cenários sociais da aristocracia e burguesia do século XIX, ao retrato de uma Lisboa oitocentista sobre um Tejo ainda translúcido e inspirador, às paisagens bucólicas de Sintra e Santa Olávia, ao psicológico drama e final trágico, não conheço outro livro onde o ritmo acelere tão gradualmente, sem quebras. Ou seja o ritmo aumenta de forma impressionatemente constante, incluindo em novos enquadramentos descritivos. Se bem que essa aceleração seja norma, para não dizer regra, noutras leituras sempre apresentaram-se travagens na velocidade da acção. Em Os Maias tal não sucede, e a cada página seguinte crescem na mesma medida o estímulo da leitura e a intensificação do drama.

Da história, como já comentei a algumas pessoas, da minha óptica sobressai os homens só se apaixonarem por  mulheres casadas, e as mulheres só desejarem outros homens que não o esposo.

Por último, mais uma vez, de um clássico retiro a seguinte conclusão:  a sua actualidade.
Bem que o retrato social de 1870 é mais próximo do que distante do retrato da sociedade actual. Ora pensem bem nestas duas questões:

Tanto em 1870 como agora em 2018, na vida os portugueses se guiam mais pelo romantismo e sentimentalismo como fim e não como forma? 

E, subsiste ou não, pelo menos desde a época de Eça de Queiroz, a esperança fatídica da salvação da nação com esta nova, ou próxima, geração?

Pois bem, só posso concluir que as sociedades, na dimensão das suas atitudes, valores e práticas, demoram muito tempo a mudar, se eventualmente mudarem.

E a quem me disser que as coisas neste país vão mudar, eu vou continuar a responder: leiam os clássicos!

Passei no exame Senhora Professora? :)

Pesquisar neste blogue

Contador

O tempo

Esperar, como todos sabemos, demora tempo a passar. Quando me sentei naquele banco de jardim não tinha qualquer intenção de pensar o que aca...

Popular Posts

Blog Archive

Acerca de mim

Simplesmente, alguém que gosta de ler e escrever...