segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Nós Europeus

Ainda não percebi se o novo presidente eleito dos EUA é assim tão ignóbil se afinal é mais inteligente do que aquilo que poderíamos esperar. Provavelmente será as duas. Depois de irritar a China com um só telefonema para Taiwan, agora quer irritar os Europeus. Nós europeus. Se ninguém percebe por que esse novo presidente prevê assim tão sagazmente a desintegração da UE, eu diria que existem segundas intenções. Esse presidente sempre disse que queria renegociar os acordos de comércio com a China, mas para o fazer tem de adquirir posição para negociação. E que tal um telefonema para Taiwan? Mas mais do que a China, a UE é que é o maior bloco económico mundial responsável por 23,8% do PIB mundial. E só em segundo lugar encontramos os EUA com uma quota de 22,2%. E, provavelmente, sem o Reino Unido a UE passará para o segundo lugar.



Fonte: Eurostat,, http://ec.europa.eu/eurostat/documents/3217494/7589036/KS-EX-16-001-EN-N.pdf/bcacb30c-0be9-4c2e-a06d-4b1daead493e

E uma Europa desintegrada terá menor capacidade de exercer a sua influência nos grandes processos globais, tais como os acordos de protecção das mudanças climáticas, que os EUA nunca gostaram, porque, sinceramente, como eles sempre disseram, não é bom para a economia deles. Mas a Europa é líder incontestável no investimento e na inovação tecnológica ambiental e tem adoptado as mais rigorosas leis de protecção ambiental e de desenvolvimento sustentável. Ora, os EUA, e muito mais esse novo presidente, não gostam muito disso. E, de facto, uma Europa mais fraca terá certamente menor capacidade em exercer influências nos padrões de produção. A juntar a tudo isto a UE exporta mais para os EUA do que importa, o que quer dizer que a balança comercial transatlântica é de saldo positivo para a UE e negativo para os EUA. Ora, não me parece que esse presidente eleito seja muito a favor de um défice para o seu país. Então, que tal taxar os carros alemães fabricados fora dos EUA? Então, e se esse presidente eleito quiser renegociar os acordos comerciais com a UE? Não será melhor enfraquecer primeiro a UE? Não fará sentido incentivar os países europeus a desconfiarem da UE demonstrando que o Reino Unido apesar de sair da UE conseguiu um bom acordo com os EUA? Adicionalmente, sabemos que, muito provavelmente, a Rússia quer desintegrar, pelo menos enfraquecer, a UE, e reconquistar a sua influência a Leste. E se esse presidente eleito nos EUA também jogar com isso?
No meio disto tudo tenho um pressentimento positivo. Toda esta conversa reforça o "nós europeus". Quanto mais os outros nos chamarem de europeus mais tomaremos consciência do "nós europeus". Uma perspectiva exterior de nós europeus reforça também a nossa forma de nos vermos a nós próprios como europeus. E que as maiores ligações que temos é entre nós europeus, e que em quem mais devemos confiar é em nós europeus. Quando esse novo presidente dos EUA foi eleito comentei com algumas pessoas que tudo isto poderia revelar-se uma boa oportunidade para a Europa se distanciar e se tornar independente da protecção dos EUA. E cada vez mais reforço esta ideia, uma oportunidade para nós europeus. Independentemente das nossas diferenças e divergências temos mais em comum do que pensamos. Ainda defendemos um estado social, os EUA não e o Obamacare, um pseudo-projecto de sistema nacional de saúde deverá ser extinto. As mães e os pais não têm nem licença nem subsidio de maternidade/paternidade. Ainda defendemos o ambiente, pelo menos alguma coisa, e os EUA muito menos. A quantidade emitida de CO2 per capita, e de CO2 por unidade de PIB, são nos EUA o dobro da UE! Ou seja, para uma unidade de produção os EUA poluem duas vezes mais! Em 2014 o EPI (Environmental Performance Index) - produzido pela universidade de Yale nos EUA, portanto, calculado nos próprios EUA e longe de suspeitas - mede a performance dos países na sua relação com os assuntos ambientais, concretamente nas políticas de protecção da saúde humana dos factores ambientais nocivos e nas políticas de protecção dos ecossistemas. Numa escala de 0 a 1 em que 0 é a pior performance e 1 a melhor, os EUA apenas obtêm uma pontuação de 0,68, enquanto Portugal obtêm 0,82, Espanha 0,87, a Noruega 0,94, a Austrália 0,93 e o Japão 0,89.


Fonte: Banco Mundial

E do gráfico anterior imaginemos que, na América do Norte, o Canadá apresenta valores inferiores aos EUA, logo, a curva representativa dos EUA está acima da linha laranja!
E se as leis de protecção ambiental avançarem quem tem de momento as melhores tecnologias disponíveis? Os europeus e os japoneses! E a quem todos os outros países terão de comprar? Será menos aos EUA.
Nós europeus. Ainda defendemos a segurança colectiva e a proibição da posse de armas de fogo sem restrição, os EUA não. Temos menos homicídios que os EUA. Não temos tiroteios nas escolas.
Talvez toda esta conversa reforce os nossos laços europeus. Talvez percebamos que a UE só tem que se adaptar e de se alterar mas não precisa de desaparecer. Uma UE mais solidária e mais representativa dos seus cidadãos. Mais democrática e mais igualitária. Não estamos contentes com a Europa mas a verdade é que estamos cá, não estamos do lado de lá. Como diz o ditado, "o que não nos mata torna mais fortes"... a nós europeus.

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